terça-feira, 29 de março de 2011

Triste testemunho

Ontem minha tarde foi mudada por um triste acontecimento. Saí correndo da sala do TJUFRJ ao ouvir sirenes que se aproximaram e de repente pararam, como se tivessem chegado ao seu destino. E realmente tinham. O destino era o Palácio Universitário, construído a partir de 1841 para abrigar o Hospício Pedro II, que ficava em frente ao que era a Praia da Saudade.

Desde a primeira vez que entrei ali, como vestibulanda, para fazer uma prova da Unirio, eu me apaixonei por aquele prédio, pelas árvores e pelo teatro de arena. Como aluna, a partir de 2009, conheci a capela, e me apaixonei ainda mais pelo Palácio. E, sem que eu percebesse, eu via parte disso literalmente virar pó. O incêndio que começou na cúpula se espalhou rapidamente, e os bombeiros pareciam apenas admirar o fogo. Temíamos que o fogo se alastrasse pelas salas de aula, temíamos já a repercussão, o uso da tragédia para fins políticos (o que realmente está acontecendo).
E eu estava lá, só podia narrar o que via, tentando passar pra quem estava longe o que acontecia. No twitter eu postava cada coisa que presenciava: a lentidão, a água da piscina sendo puxada, o assoalho que quase caiu sobre o bombeiro. E me via entre a razão e a emoção, entre querer ir pra casa enquanto ainda era cedo e seguro e ficar ali até que as chamas cessassem completamente. No fundo, eu não acreditava no que meus olhos viam. Tanto que eu reclamei de prédios tombados que não são devidamente cuidados, e foi justamente um tão próximo a mim a ser vitimado pelo descaso.

O Iphan vinha tentando "pôr o prédio nos eixos", preocupado com a piscina que fere o projeto original e com os aparelhos de ar condicionado, não olhou pro resto: a inexistência de brigada de incêndio, a condição das obras. E acabamos, mais uma vez perdendo parte do nosso patrimônio.
Resta saber até quando vamos levar essa política de desrespeito à nossa memória.


Terceiro andar: apenas madeiras na capela

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