domingo, 5 de outubro de 2008

Um pouco nacionalista


Numa visita ao museu da FEB em Petrópolis conheci o senhor Osmar Justen, um simpatissíssimo veterano da Segunda Guerra Mundial, que diz com orgulho ser nascido e criado em Petrópolis.
Ao ver a placa indicando um Museu dedicado à Força Expedicionária, convocada para lutar nos campos da Itália, fiquei animada, mas "decepcionada" porque este museu era uma pequena casa situada atrás do belíssimo Palácio Rio Negro, antiga residência de verão de alguns presidentes brasileiros. E dentro daquela construção de três apertados cômodos havia uma coleção relativamente grande, apesar das fotos serem restritas aos veteranos vindos da cidade imperial.
Fotos, armas, itens do uniformes, minas, máscara de gás e outros itens interessantes se espremem nas salas, dividindo espaço com a experiência e as histórias do senhor Justen (pequei e confesso: acabei não perguntando a patente dele).
O falante petropolitano nos contou algumas passagens da sua participação na Grande Guerra. Ele conta da dificuldade de encarar o inverno europeu e as temperaturas muito baixas sem as roupas adequadas, havendo ocasiões nas quais, ao acordar, ele não conseguia mexer os dedos, parcialmente congelados; do banho quente que tomou com os pés fincados na neve. Mesmo depois de mais de 60 anos terem se passado,ele diz sentir vontade de chorar ao lembrar de algumas coisas, como da falta de alimentos que assolou a Itália. Segundo ele era comum rasgar notas de lira italiana, porque dinheiro havia de sobra, mas não havia comida a ser comprada, e foi então que ele narrou os fatos que o emocionam.
De acordo com o relato dele, o desespero diante da fome era tanto que um marido chegou a oferecer-lhe a esposa em troca de alimento, mas ele não teve coragem de tocar na mulher e entregou ao casal alguns alimentos.Dos azuis olhos do "pracinha" quase surgiram lágrimas quando ele lembrou das crianças que também vinham em busca de algo para comer, muitas das quais não sabiam onde estavam os pais, porque durante os bombardeios, saíam correndo, lutando por suas vidas e acabavam se separando da família, sem encontrá-la posteriormente.
A frase no quadro acima da entrada da segunda sala me chamou a atenção: "CONSPIRA CONTRA A SUA PRÓPRIA GRANDEZA, O POVO QUE NÃO CULTIVA SEUS FEITOS HERÓICOS", infelizmente é pouco posta em prática no Brasil. O Museu de Petrópolis é pouco valorizado como o Museu da FEB aqui na cidade do Rio, que está entregue às traças, assim como muitos outros museus.
Uma pena a falta de tempo pra conversar um pouco mais com o senhor Osmar, saímos de lá já pensando em uma nova visita e certos de que o que presenciamos era a história viva, a história que nós não vemos nos livros, longe da história Rankiana, presa aos documentos, a guerra na visão de quem estava lá, carrregada de emoção e subjetivismo, mostrando que nem só do aço das armas é feita uma guerra.
Pode ser que nem tudo seja verdade, mas muito da conversa são coisas perto das quais alguns historiadores nunca chegarão.