domingo, 15 de setembro de 2013

Indiferente, eu?

Jovem em acampamento de refugiados sírios - KHALIL MAZRAAWI / AFP

























"A gente se acostuma com tudo", é o que dizem. "Só incomoda no começo, depois você se habitua". Acho que é uma das frases mais ouvidas por quem escolhe uma profissão que lida com a morte. Entre elas está a "menos nobre": o jornalismo.

Morte e sofrimento são parte do noticiário. "Desgraça é o que vende".

A verdade é que a gente fica balançado. Bom, pelo menos eu - mera iniciante - fico. No final da última semana eu me deparei com duas coisas que mexeram comigo, e elas se autocompletavam. Primeiro, o mero corte de uma foto para ilustrar uma matéria (é a foto que inicia o post). Depois, um texto publicado no site do New York Times que mexeu com os meus lados humana e fotógrafa wannabe.

Apesar da fama de durona - até de coração de pedra já me chamaram -, não sou tudo que dizem, e fiquei com o coração apertado ao olhar repetidas vezes para a foto.

Enquanto alguns repórter experientes dizem que é importante se distanciar do fato, outros defendem que é importante se envolver sim, que isso ajuda o texto.

Ajudando ou não, meu coração bateu mais apertado ao ver o menino da foto. A legenda original da agência dizia que ele vendia latas de atum e outros gêneros alimentícios. Olhava o rosto dele e me imaginava ali: fugida do meu país, temendo uma bomba iminente, sob o sol escaldante, tentando vender qualquer coisa para sobreviver. E pensei comigo: "Em que merda de mundo vivemos". A Síria em guerra há dois anos. Os EUA querem pôr fim ao conflito com mais ataques. Mas, sem a intervenção, os sírios podem continuar em meio a um embate sem fim. É a velha história do "entre a cruz e a espada".

O texto do NYT é justamente sobre um fotógrafo que vive a "vergonha da memória", que diz ter chegado a muitos lugares parecendo ser o "salvador da pátria", mas tudo que ele tinha era a câmera para registrar toda aquela miséria.

Diariamente o jornalismo se vê às voltas com isso. Um buraco na rua, a falta de saneamento são coisas simples. Uma reportagem ou duas e a coisa melhora. Mas a miséria, o sofrimento profundo, esse não tem série especial que resolva.

E coitados de nós, até nos calejarmos. Ainda que menos do que eles, sofreremos junto de cada um.

Abaixo, o documentário "Abaixando a Máquina", com fotojornalistas contando como é cobrir os casos de violência e tragédia. É longo, mas vale a pena para entender que há seres humanos tanto na foto quanto por trás dela.


Nenhum comentário: