segunda-feira, 2 de março de 2015

Um Rio que eu não reconheço

Vista do alto do Morro de Paciência (um bairro que eu juro que faz parte da cidade do Rio)


Com o aniversário da cidade, multiplicaram-se na TV, nos jornais e no Facebook as homenagens ao Rio de Janeiro. Na maioria das imagens e frases, referências à Zona Sul, como se o aniversário fosse só daquela parte da cidade. Foi lá que o Rio foi fundado, vai ver é por isso. Me engana que eu gosto. Das poucas imagens de fora, a maioria era da Zona Norte, umas poucas e minguadas lembravam a Zona Oeste, quase um prêmio de consolação.

Tem ainda a lista de "hábitos cariocas", e de novo uma exaltação à Zona Sul. Vendo tudo isso, fiquei me sentindo um tanto de fora. A cada resposta de "o que é carioquice?", menos carioca eu me sentia. Eu sou carioca, de gema, nascida e criada no purgatório da beleza e do caos. Mas nunca fui à praia em Ipanema ou Copacabana e ODEIO mate (me julgue!).

Quando criança eu ia à praia com certa frequência, mas levávamos lanche de casa. Nunca soube jogar frescobol. Altinho? Não tenho habilidade pra isso. Sou carioca e gosto de samba, o que não me faz mais carioca do que quem só gosta de rock ou de axé.

Nasci e cresci na Zona Oeste, em Paciência, bairro carioca que muita gente julga fazer parte de outra cidade (se comparar com alguns bairros da Zona Sul, bem que parece outra realidade mesmo). O pôr-do-sol atrás do morro meio ao longe é um dos meus preferidos. Mas Paciência não aparece no Rio 450, a concessão máxima foi feita à Zona Norte, que ganhou a terceira sede da prefeitura do Rio.

À Zona Oeste e seus moradores sobra o lamento nas redes e a realidade de pouco investimento, exposta em reportagem publicada no dia do aniversário da cidade, contando que surpresa que a despoluição da Baía de Sepetiba recebe muito menos verba do que a Baía de Guanabara.

Uma propaganda veiculada na data comemorativa diz que uma nova cidade está nascendo. Me pergunto se no Novo Rio há mais espaço (e cuidado) pra Zona Oeste.

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