sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Outros caminhos

Esquina da Rua Santo Hiparco (juro que a placa acima do carro é a que eu vi)

Eu era a única passageira que ainda estava no ônibus e ia descer no ponto final. O motorista decidiu mudar a rota para fugir do engarrafamento nos últimos quilômetros do trajeto. A mudança foi providencial, já tínhamos enfrentado muito trânsito ruim até ali — um tanto atípico para um fim de manhã e início de tarde de sexta-feira.
Eu tinha conseguido terminar de ler um livro e começara outro, que parecia mais promissor que o anterior. Mas minha atenção se via dividida: não sabia se prestava atenção às notas de Santos Dumont ou às curvas do caminho para ver tudo que havia mudado naquelas paragens pelas quais há muito eu não passava.
Até que notei que era inútil lutar contra a curiosidade e me deixei levar pela sequência de muros da linha férrea, de casas com quintal e muro baixo, ferros-velho que passavam pela janela do ônibus.
Uma curva, o ônibus sai da via principal para acessar o viaduto. Pelo quadro-janela, em um muro carcomido vejo a placa que indica "Rua Santo Hiparco". Não sei quem foi Hiparco nem o que ele fez para se tornar santo, mas aquele nome bateu fundo em alguma parte de mim.
Demorou alguns segundos até que eu lembrasse que o velho ônibus escolar que me fez companhia da 5ª à 8ª série passava pela tal rua durante alguns desses anos. Que fora ali, na Santo Hiparco que o ônibus furou o pneu. Lembrei do desenrolar da história do pneu e de tantas outras tramas ligadas à rua, àquela condução, à escola. Foi impossível evitar que, assim como o motorista do ônibus, a minha mente pegasse outros caminhos.
O livro continua parado ainda na primeiras páginas.

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