quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Todas essas que eu nunca serei



Ela se olha no espelho, retoca o batom, checa se o rímel escorreu, ajeita o vestido e sai. Parece que anda em nuvens e se equilibra com desenvoltura sobre o salto alto do sapato azul. Esse sapato com esse vestido? Como ela consegue ficar bem assim?

Todos os dias essa moça e tantas outras passam na minha frente como em um desfile. E então eu vejo todas essas que eu nunca serei.

Pode passar creme, prender o cabelo, botar maquiagem e comprar roupa cara, nada parece suficiente para me salvar de mim mesma. Mesmo o básico é um desafio: combinar as roupas e criar um "look", andar com desenvoltura, sem ser desajeitada ou esbarrar nas coisas, interagir com as pessoas superando a timidez e o medo de parecer idiota.

E a academia, então? Parecia errado. Mesmo copiando exatamente os passos da professora não tinha como fazer aqueles pulinhos na mini cama elástica parecerem certos.

O tempo vai passando, e com ele vão mais dessas moças que comem muita salada, que saem sempre, que sorriem com naturalidade e fazem rir sem precisar recorrer a piadas ou palhaçadas -- afinal, todo gordinho é engraçado, né? Tem na manga aquelas piadinhas que compensam com ~humor~ o fato de não se encaixar nos padrões de beleza. Que gordinho nunca? Eu (quase) sempre.

Se no quebra-cabeça a gente se frustra com a peça que falta, eu me sinto a peça que sobra e que não se encaixa nos padrões de nada (beleza, comportamento, escolhas...). E todo dia eu volto pra caixa, como se o jogo fosse mudar de um dia pro outro, como se um novo desenho fosse surgir com um espacinho pra mim.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Sobre amores e o tempo







Era uma vez um amor à primeira vista: um Maverick azul metálico que vivia parado em uma mecânica bem no caminho pro curso de inglês. Mas carro importado é coisa cara, e então eu precisei baixar a bola e procurar uma paixão à minha altura. [Correção: um coleguinha me alertou que o Maverick não era importado. Mas ouvi isso em algum momento e acreditei na história]

Eis que um dia, nem sei bem como, ele cruzou o meu caminho: um Opala da década de 1970. Eu não sabia o ano, só sabia que queria "o que tem o farol e a lanterna redondos". Um belo dia o carro, um lindo cupê 78/79, foi comprado, um blog foi criado pra contar a história da reforma, que morreu pouco depois de nascer e levou o blog com ela.

Um tempo depois o romance (com o blog) ameaçou renascer graças à uma disciplina da faculdade, mas tudo parecia piada: humor barato, textos mal escritos e fotos com legendas toscas. O blog, claro, teve seu lado positivo. Era um bom puxador de assunto e me garantiu um estágio, olha aí.

Mas o tempo passou de novo, a carteira não veio, o dinheiro escasseou e o blog-defunto esfriou de vez. E o lance com o Opala, assim como o do Maveco, virou um caso platônico, amor não correspondido.

O Opala passou a ser item de decoração e vestuário, e ao pobre Maverick, amor original, restou batizar os Wi-fi's da minha casa e da casa dos meus pais.