sábado, 24 de maio de 2014

"Boa tarde... Obrigada"

Foto: Reprodução da Internet


— Boa tarde... Obrigada.

Entre o cumprimento e o agradecimento, a moça da loja esticou a mão e eu peguei uma tirinha perfumada. Eu só não sabia que seu cheiro estaria nela. A moça não avisou. Seu perfume era da Natura, como eu ia saber que uma fragrância tão parecida apareceria no papelzinho de outra loja?

Inspirei aquele cheiro, ainda descrente. Cheirei o papel ainda outra vez. Era o seu perfume, ou algo muito parecido com ele. Mas o que me impressionou mesmo foi eu ainda me lembrar dele. Tantos anos depois, ele continua marcado na minha memória olfativa. Por que será que você teima em não se apagar de mim?

Se fossem memórias boas, eu entenderia. Mas não são. Por sua culpa, deixei de acreditar no amor por muito tempo. Por sua culpa, me tornei uma pessoa mais fechada. Por sua culpa, fiquei mais desconfiada. Ainda bem que o destino me mostrou que as pessoas não são como você, e colocou um homem, e não um moleque, no meu caminho.

Não sei o que é pior: essa lembrança que me assalta a paz, ou saber que, provavelmente, você nem se lembra de mim, que não há nada para te roubar a calma, nenhuma memória que te irrite por já ter me amado.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Diante da fragilidade da vida

Foto: Alyne Bittencourt

"A única certeza da vida é a morte". Repetimos essa frase mecanicamente um monte de vezes, e ela entra pro hall das coisas que falamos sem acreditar completamente.

Depois da morte, o que sobra é a ausência. A certeza de chegar a um lugar e não encontrar quem sempre esteve ali - e que às vezes nem notávamos - quase mais um móvel da casa, que de repente começa a fazer muita falta. Para sempre.

Falamos muito sobre a morte, mas nos chocamos diante dela, seja ela repentina ou anunciada. Por mais que tentemos absorver que o fim de alguém está próximo, nunca estamos preparados para a partida.

A morte exime as pessoas de defeitos. Todos são flores e lágrimas sobre o caixão. A morte aproxima. Aqueles que gostavam de quem se foi estão ali reunidos, embora por um motivo triste. A morte reacende sentimentos. Nosso lado humano transborda com a morte de alguém querido, mesmo que seja uma pessoa distante, mas que, de algum modo, nos tocava. A morte nos faz iguais. Todos sofremos e.um dia, seremos levados por ela (ainda que para outra vida, para outro lugar, ou para sempre, dependendo da crença).