quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Um móbile no furacão


Abro o livro e procuro o ponto onde parei a "leitura" do audiolivro. Deus, ainda bem que o livro está no Kindle e dá para buscar uma palavra que lembro ter ouvido pouco antes de pausar a última faixa do audiolivro que escutei.

Desconfortável, aumento a letra para poder ler sem os óculos. Não acho posição para o e-reader, nem para mim. Tento, tento de novo, mas a atenção não se fixa. Começo a imaginar o porquê. Será porque tenho lido vorazmente e li mais de 400 páginas nos últimos 5 dias? Pouco provável.

A respiração ofegante e o formigamento mostram que o problema tem outra raiz, e ela está bem afixada no solo do meu cérebro. Os pensamentos fluem feito corredeiras. Chocam-se uns com os outros e seguem sem rumo colidindo nos cantos da cabeça. A luta para manter o foco parece exigir força maior do que a de que disponho.

O mergulho nos livros, que deveria apaziguar a mente, não surtiu efeito. Tomo o remédio para a ansiedade que, claro, não funciona. Ele não é tão forte assim. A TV não passa nada interessante. O jeito é escrever, quem sabe expulsando parte dos pensamentos de dentro da cabeça sobre espaço para os que ficarem por lá?

Não sei se vai funcionar, mas testar não custar nada.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Meu castelo de cartas

Reprodução da Internet

Uma carta, outra carta, cuidado e leveza nas mãos. Na mesa, aparece o primeiro 'V' de cabeça pra baixo. Mais cuidado, e outrs Vs aparecem. Eles são cobertos por cartas na horizontal. Por cima delas, outro andar e depois mais outros. Cada célula daquela demanda uma grande atenção. A obra é finalizada e fico orgulhosa, eu gosto do castelo de cartas, é uma conquista, me afeiçoei a ele.

Mas sua beleza é etérea, seu equilíbrio, delicado. Ele pode ruir a qualquer momento, e não tem nada que eu possa fazer. Tentar segurar poderia derrubar as outras cartas ainda mais rápido. Porém, como deixá-lo ir assim tão fácil? Como vê-lo se desfazer em câmera lenta e me notar incapaz de mudar a situação?

Olho e te vejo se desmanchar, como o meu castelo de cartas. Frágil como nunca, fugindo do que poderia te salvar. O problema é que, como no castelo de cartas, cada vez que tento ajudar, só me sinto forçando sua destruição. Não tenho jeito, o gestos são brutos. Como posso? Como pude fazer o que já fiz?

Castelos de cartas foram mesmo feitos para cair. Você, não. Eu não quero aceitar sua ruína, não quero te ver virar uma pilha de cartas. Eu te quero casa de tijolos, que nem nos Três Porquinhos. Por que não sei como ajudar? Parece que nasci para as perguntas e não para as respostas.

O jeito vai ser tentar te ajudar a recolher as cartas e construir de novo. Porque, mesmo falha e um tanto distante, estarei ao seu lado para cada reconstrução.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Eu, caçador de mim

Não sei se foi bem isso que o autor da música quis dizer quando a escreveu. Mas, olhando pra mim neste momento e no que eu faço comigo mesma, é assim que eu me sinto: caçadora de mim. Um caçadora no mau sentido. Parece que eu quero me abater.

Que a autossabotagem é uma prática comum para mim, não é novidade. Que eu tenho problemas para me livrar dela também não é. Só que fazia tempo que essa onda de coisa ruim não quebrava na costa - ou nas minhas costas - desse jeito.

Era para eu estar feliz. A monografia semi-desesperada feita sem o afinco ideal ganhou um dez, consegui apresentar sem surtar e nem parecia a menina que tremia minutos antes enquanto tentava ensaiar ouvindo as moças na CPM comentando que "gringo gosta de mulher com rabo grande" (foi assim que elas falaram).

Mas é preciso bem pouco para eu sair dos trilhos - ou voltar aos velhos - e me jogar para baixo. Quer fazer Letras? Não. O curso é à noite e não abriu vaga. Por que não viu antes? Não é você quem cobra antecipação das pessoas? Onde estão seus planos, suas alternativas?

Até tentando não me cobrar, eu me cobro.

Quando se é caça e caçador, não há vitoriosos. Ambos são abatidos.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Sobre livros e refúgios


"Você tem ludo muito ultimamente. Não que você não leia, quero dizer... você tem lido mais... sistematicamente"

Essas palavras, ditas sem qualquer tom de crítica, grudaram feito carrapicho no cadarço do tênis quando eu era pequena. E eu fiquei matutando.

Realmente, estava lendo mais, embora estivesse na reta final da redação da monografia. Era livro no Kindle, conectado ao aplicativo do Kindle no celular pra eu poder ler no ônibus, just in case, ou em caso de almoço solitário, era livro na hora de ir ao banheiro (sim, tenho essa mania). Se fosse fino, melhor ainda: terminava rápido e eu poderia pegar logo um outro.

Meu primeiro impulso foi pensar que não passava da minha sanha competidora querendo aumentar o número do Paginômetro do Skoob. Mas, depois de ruminar (aprendi nas aulas de psicologia que a resposta que vem de pronto, geralmente, é uma enganação), acho que encontrei a pólvora: os livros eram uma fuga.

Afinal, eu estava mergulhada, há alguns meses, em leituras cansativas sobre protestos, internet, Twitter, jornalismo na web, espaço público. Enfim, temas que não figuram na lista dos meus livros preferidos.

Assim, entre uma citação e um artigo em inglês, comecei a procurar pequenos refúgios: um livreto de história, um de "crônicas", outro de propagandas de carros da década de 1950. Ou seja, coisas que me lembrassem que a monografia era algo passageiro, e que eu poderia, em breve, dedicar quanto tempo quisesse (ou algo próximo a isso) lendo apenas aquilo que realmente me interressasse.

Bom, amanhã defendo a monografia e passo essa página. Apesar de não saber se, com isso, fecho meu livro da Eco. Só que isso é assunto pra outra história.